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Garantia de salvação

Garantia de salvação

“Todo aquele que crê que Jesus é o Cristo, é nascido de Deus; e todo aquele que ama ao que o gerou também ama ao que dele é nascido.” (1 João 5:1).

Introdução

Jesus é o tema central tanto do Evangelho de João quanto de sua primeira epístola. No Evangelho, o autor destaca o propósito de registrar alguns dos milagres realizados por Jesus, com o objetivo de fortalecer a fé de seus leitores em Cristo.

“Estes, porém, foram registrados para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em seu nome” (João 20:31).

A epístola de João enfatiza a segurança da salvação para aqueles que creem na pessoa do Filho de Deus, assegurando que seus destinatários não esqueçam que alcançaram a vida eterna.

“Estas coisas vos escrevi, a fim de saberdes que tendes a vida eterna, a vós outros que credes em o nome do Filho de Deus” (1 João 5:13).

 

Por que era necessário para o apóstolo ressaltar a segurança da salvação? Porque, entre os cristãos, havia pessoas que introduziam doutrinas estranhas ao evangelho, minando a segurança da mensagem. Um exemplo disso são os judaizantes, que percorriam cidades afirmando que, para os cristãos serem salvos, era necessário se circuncidar conforme o ritual da lei mosaica.

 

 

O Evangelho assegura plenamente a salvação daqueles que creem que Jesus é o Cristo, mas doutrinas diversas e estranhas introduzem questionamentos que instigam dúvidas em muitos cristãos.

 

A condição dos salvos em Cristo

Jesus é claro:

“Quem crer e for batizado será salvo; mas quem não crer será condenado.” (Marcos 16:16).

Para não ter dúvidas, o apóstolo Paulo afirma:

“A saber: Se com a tua boca confessares ao Senhor Jesus, e em teu coração creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo.” (Romanos 10:9).

Essa mensagem não foi inventada, antes foi anunciada pelos profetas:

“Porque a Escritura diz: Todo aquele que nele crer não será confundido.” (Romanos 10:11);

 

“Por isso também na Escritura se contém: Eis que ponho em Sião a pedra principal da esquina, eleita e preciosa; e quem nela crer não será confundido.” (1 Pedro 2:6).

Os apóstolos deixam claro por que crer em Cristo proporciona salvação. O apóstolo João destaca que aquele que crê em Cristo é gerado por Deus, e qualquer um que ama a Deus também ama o Filho de Deus.

“Todo aquele que crê que Jesus é o Cristo, é nascido de Deus; e todo aquele que ama ao que o gerou também ama ao que dele é nascido.” (1 João 5:1).

Não há como dissociar o amor a Deus do amor a Jesus de Nazaré, e o motivo é evidente: Deus deu testemunho do Seu Filho, e somente quem crê nas Escrituras realmente crê em Deus. Quem não crê nas Escrituras está, na verdade, chamando Deus de mentiroso.

“Quem crê no Filho de Deus, em si mesmo tem o testemunho; quem a Deus não crê mentiroso o fez, porquanto não creu no testemunho que Deus de seu Filho deu.” (1 João 5:10).

 

Aquele que crê em Cristo está na palavra de Deus, e o testemunho de Deus está nele. Esse vínculo entre o cristão e Deus é o mesmo que “conhecer” a Deus, ter “comunhão” com Deus, de modo que o cristão é uno com o Pai e o Filho.

 

É possível reconhecer quem está em Cristo? Sim, é plenamente possível, e isso ocorre através da confissão, que se manifesta como o “fruto dos lábios”.

 

“Qualquer que confessar que Jesus é o Filho de Deus, Deus está nele, e ele em Deus.” (1 João 4:15; João 17:22; Hebreus 13:15).

Os apóstolos demonstram como é possível alcançar a salvação, ou seja, por meio da fé (crendo) em Cristo (fé), e como é possível identificar outro crente salvo: aquele que admite (confessa) que Jesus é o Cristo. Por isso, o apóstolo Paulo afirma:

“A saber: Se com a tua boca confessares ao Senhor Jesus, e em teu coração creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo. Visto que com o coração se crê para a justiça, e com a boca se faz confissão para a salvação.” (Romanos 10:9-10).

A exposição do apóstolo Paulo ensina que crer em Cristo é considerado justiça, pois, de maneira análoga a Abraão, que creu em Deus quando lhe foi anunciado que sua descendência seria incontável como as estrelas dos céus, isso lhe foi imputado como justiça. Ao crer em Cristo, o cristão igualmente deposita sua fé (crença) em Deus, seguindo o exemplo de Abraão, pois crê no testemunho que Deus deu acerca de seu Filho.

Por que é considerado salvação? Porque a confissão é o fruto dos lábios que Deus requer daqueles que foram “plantados” por Ele, ou seja, árvores de justiça que produzem louvor à Sua graça. Essa confissão é o testemunho externo da crença (fé) interna, revelando a transformação interior operada pelo evangelho, qual seja, o fruto digno de arrependimento, que é confessar a Cristo.

Nisto é glorificado meu Pai, que deis muito fruto; e assim sereis meus discípulos.” (João 15:8);

“A ordenar acerca dos tristes de Sião que se lhes dê glória em vez de cinza, óleo de gozo em vez de tristeza, vestes de louvor em vez de espírito angustiado; a fim de que se chamem árvores de justiça, plantações do Senhor, para que ele seja glorificado.” (Isaías 61:3).

 

É um equívoco considerar que simplesmente crer na existência de Deus é equivalente a crer verdadeiramente n’Ele. Da mesma forma, há quem pense que crer no impossível, no absurdo, em milagres, em instituições, em leis, na descendência, entre outros, é equivalente a crer em Deus. No entanto, a Bíblia enfatiza que a verdadeira fé (crer) em Deus só é possível por meio de Cristo.

“E por ele credes em Deus, que o ressuscitou dentre os mortos, e lhe deu glória, para que a vossa fé e esperança estivessem em Deus;” (1 Pedro 1:21).

O fruto dos lábios, pelo qual Deus é glorificado, contém a semente incorruptível, que é o evangelho — o poder de Deus que regenera (cria de novo) aqueles que creem, transformando-os em novas criaturas. Assim, a verdadeira fé em Deus se manifesta não apenas na aceitação intelectual de Sua existência, mas na confiança e esperança depositadas em Cristo, por meio do qual experimentamos a regeneração espiritual e nos tornamos novas criações.

“Sendo de novo gerados, não de semente corruptível, mas da incorruptível, pela palavra de Deus, viva, e que permanece para sempre. Porque toda a carne é como a erva, e toda a glória do homem como a flor da erva. Secou-se a erva, e caiu a sua flor; Mas a palavra do Senhor permanece para sempre. E esta é a palavra que entre vós foi evangelizada.” (1 Pedro 1:23-25).

A regeneração espiritual, descrita como sendo “gerados de novo”, confirma a filiação divina dos crentes, como destacado em 1 João 3:1-2. Esta filiação resulta na participação na natureza divina, conforme mencionado em 2 Pedro 1:4. Sendo novas criaturas em Cristo, os crentes desfrutam de uma nova condição, pois estão em união com Ele e Ele neles. Isso implica em isenção de toda condenação, conforme expresso em passagens como Romanos 8:1 e 2 Coríntios 5:17, onde se destaca que todas as coisas se tornaram novas.

Ao descrever os cristãos como filhos, luz, pedras vivas, templo, sacerdócio real, novas criaturas, santos, inculpáveis, justos, entre outros termos, os apóstolos evidenciam a rica condição dos salvos em Cristo. Essas descrições não apenas ressaltam a identidade transformada dos crentes, mas também ilustram a variedade e profundidade das bênçãos e relações que têm como resultado da fé em Jesus. Essa nova condição em Cristo é fundamental para compreender a plenitude da redenção e da comunhão que os crentes desfrutam como membros do corpo de Cristo.

 

Doutrinas de dúvidas

O evangelho é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê, independentemente de ser judeu ou grego. A mensagem do evangelho é clara: – “Quem crer e for batizado será salvo!” – “Crê no Senhor Jesus Cristo e serás salvo, tu e a tua casa” (Marcos 16:16; Atos 16:31).

 

No entanto, as mensagens recentemente veiculadas têm gerado mais dúvidas do que confiança no sacrifício de Cristo. Perguntas semelhantes a estas proliferam: Será que meu arrependimento foi genuíno? Recebi a fé salvadora? Fui eleito e predestinado à salvação? A igreja à qual pertenço me conduz a Deus? Minhas obras confirmam minha fé? Amo verdadeiramente meu irmão? Perdoei aquele que me ofendeu?

Essas dúvidas muitas vezes surgem de doutrinas diversas ou de uma má interpretação de textos bíblicos sem considerar o contexto.

Uma das confusões que aflige muitos cristãos está relacionada à concepção equivocada do arrependimento. Um dos equívocos é interpretar o arrependimento como resultado de erros cometidos ou de pecados praticados, quando, na verdade, o arrependimento é por causa de Cristo.

Jesus apresenta a razão do arrependimento:

“Desde então começou Jesus a pregar, e a dizer: Arrependei-vos, porque é chegado o reino dos céus. (Mateus 4:17).

Sem Cristo – o reino dos céus – não há arrependimento. Pecados e erros não promovem o arrependimento proposto. A pessoa pode chorar, ficar triste com relação aos seus erros, mas este não é o arrependimento bíblico.

Se voltarmos nosso olhar para a Igreja Católica até o século XVI, o conceito de arrependimento envolvia a prática de penitência. Mas o que significava se penitenciar? Envolver-se em práticas penitentes impostas pelo clero, buscando obter perdão pelos erros, por meio de castigos, sacrifícios, rezas, indulgências, entre outros.

 

Os reformadores, diante desse cenário, apresentaram diferentes perspectivas. Calvino, por exemplo, distinguiu dois tipos de arrependimento: o legal e o evangélico. O arrependimento evangélico é aquele em que o pecador, afligido, busca em Cristo o remédio para sua aflição. Já o arrependimento legal refere-se ao pecador atormentado pelas consequências de seus atos diante da ira divina, permanecendo ligado a essa perturbação.

Ambas as abordagens, no entanto, são consideradas equivocadas. O arrependimento bíblico, traduzido do termo grego “metanoia”, não se refere à penitência ou à graça irresistível, como defendido pelos calvinistas, que seria a fé concedida que leva ao arrependimento.

O verdadeiro arrependimento, de acordo com a Bíblia, é uma mudança de entendimento diante da manifestação da graça de Deus em Cristo. Um exemplo é encontrado em alguns judeus, que inicialmente acreditavam que a salvação advinha do cumprimento da lei, mas ao encontrarem o evangelho, mudaram sua compreensão, passando a crer que a salvação se dá através de Cristo. Essencialmente, o arrependimento implica uma mudança de entendimento, uma compreensão diferente sobre um assunto, conforme a metanoia grega. Do ponto de vista do vocábulo hebraico, trata-se de uma conversão, abandonando um posicionamento para adotar outro.

O chamado “Arrependei-vos” deve ser entendido como “mudem de concepção” ou “mudem de entendimento”, pois o reino dos céus está próximo com a chegada de Cristo. Qualquer pessoa que recebe a Cristo experimenta um arrependimento genuíno (João 1:12). Aquele que invoca, crê, descansa, confia, ama, serve, ouve, atende, etc., a Cristo, de fato, se arrependeu diante da chegada do reino dos céus.

“Quem crê em mim, como diz a Escritura, rios de água viva correrão do seu ventre.” (João 7:38).

Mas, antes não é necessário receber de Deus a fé salvadora? Sem a graça irresistível, seria possível crer em Cristo? A fé não é antecedida pela graça, que, por sua vez, é antecedida pela regeneração?

Encontrar uma definição objetiva para a tão mencionada “fé salvadora” é desafiador. As definições propostas por vários autores calvinistas frequentemente caem no terreno do subjetivismo, assemelhando-se, de certa forma, à penitência católica. Aqueles que tentam definir a tal fé salvadora muitas vezes se envolvem em inúmeras questões, de maneira semelhante ao clero que elaborava numerosas questões para que os católicos se penitenciassem por pecados cometidos.

 

As teologias calvinista e arminiana instigam dúvidas em relação à garantia da salvação, especialmente ao divulgarem a doutrina da eleição e predestinação para a salvação, seja pela soberania divina ou pela presciência. Essas doutrinas parecem mais propensas a gerar incertezas do que aquelas que, igualmente equivocadas, apresentam as boas ações como essenciais à salvação.

Ao considerarmos o que Jesus anunciou à multidão em comparação com as mensagens divulgadas pelo calvinismo e arminianismo, a simplicidade da mensagem de Jesus, conforme registrada pelos apóstolos, se destaca.

Jesus requer de seus ouvintes que creiam em suas palavras e permaneçam crendo para alcançarem a salvação. Se a doutrina calvinista e arminiana fosse a essência do evangelho, nunca seria necessário demandar que o homem obedeça crendo. Em vez disso, seria afirmado claramente que para ser salvo é preciso ser eleito e predestinado antes mesmo de existir. Jesus não explicou nada disso aos seus ouvintes. Em vez disso, a mensagem seria algo como: “Vocês só crerão em mim se foram eleitos e predestinados desde a eternidade para a salvação, quer pela soberania ou pela presciência; Há muitos entre vocês que dizem crer em mim, mas que não foram eleitos ou predestinados, e só descobrirão isso após passarem para a eternidade; Não se preocupem, Deus é tão justo que já escolheu os salvos e rejeitou os perdidos antes mesmo de nascerem; Vocês não têm nada a fazer além de ouvir passivamente que eu salvo; No final, irresistivelmente ou prevenientemente, alguns crerão porque foram eleitos e predestinados, enquanto os demais nunca terão qualquer oportunidade de se salvarem”.

Para entender a doutrina calvinista, examinemos um devocional do livro “Provai e Vede” de John Piper, que aborda o tema “O agonizante problema da segurança da salvação”. Piper argumenta que a fé salvadora se subdivide em duas partes:

“Primeira: a fé é uma visão espiritual da glória (ou beleza) no Cristo do evangelho. Em outras palavras, quando você lê ou ouve o que Deus fez pelos pecadores, na cruz e na ressurreição de Jesus, o seu coração vê isso como algo sublime e glorioso em si mesmo, mesmo antes de você ter certeza de que é salvo por meio disso. (…) Segunda: a fé é um descanso garantido neste evangelho glorioso, para a nossa salvação. Eu digo “descanso garantido”, porque há um descanso não garantido — pessoas que imaginam que são salvas, mas não o são, porque nunca chegaram a ver a glória de Cristo como sublime e constrangedora.” Piper, John. Provai e Vede. Editora Fiel.

Para Piper a fé é uma visão espiritual da glória no Cristo do evangelho, entretanto, o apóstolo Paulo define a fé como o próprio Cristo.

“Mas a Escritura encerrou tudo debaixo do pecado, para que a promessa pela fé em Jesus Cristo fosse dada aos crentes. Mas, antes que a fé viesse, estávamos guardados debaixo da lei, e encerrados para aquela fé que se havia de manifestar.” (Gálatas 3:22-23).

 

O apóstolo Paulo utiliza o substantivo grego “π?στις” (fé) com dois significados distintos nestes dois versículos: fé personificada na pessoa de Cristo e acreditar. O verbo grego “πιστε?ω” é utilizado uma única vez, no sentido de crer, acreditar.

No verso 22, o termo “π?στις” assume o significado de crer, acreditar, tendo a pessoa de Cristo como digna de confiança. Isso significa que as Escrituras do Antigo Testamento encerraram judeus e gentios sujeitos ao pecado, com o objetivo de que a promessa de bem-aventurança anunciada a Abraão fosse concedida aos crentes (πιστε?ω). O verbo grego “πιστε?ω” é traduzido por “crentes”, como se fosse uma forma substantivada do verbo, mas, na verdade, refere-se àqueles que creem, aos crédulos na mensagem do evangelho.

No verso 23, o substantivo grego “π?στις” (fé) remete o leitor à pessoa de Cristo, e o apóstolo utiliza uma figura de linguagem, a metonímia, para destacar a pessoa de Cristo, representando-o pela sua obra. Como Cristo é o autor e consumador da fé (fidelidade, verdade, evangelho), o apóstolo refere-se a Cristo como a fé que estava por vir e que se manifestou.

“De maneira que a lei nos serviu de aio, para nos conduzir a Cristo, para que pela fé fôssemos justificados. Mas, depois que veio a fé, já não estamos debaixo de aio. Porque todos sois filhos de Deus pela fé em Cristo Jesus.” (Gálatas 3:24-26).

Ao compreendermos o uso que o apóstolo dos gentios faz do substantivo grego “π?στις” (fé) e do verbo grego “πιστε?ω” (crer), a leitura dos versículos 24 a 26 assume o seguinte contorno: a lei tinha um objetivo – Cristo – e, por isso, serviu como instrutor (Romanos 10:4). Os homens são guiados a Cristo para serem justificados por Ele, ou seja, a fé manifesta (Atos 13:39). Após a vinda de Cristo, a fé mencionada no versículo 23, os cristãos não estão mais sob a lei (aio). Isso implica que todos os cristãos são filhos de Deus porque creem em Cristo, ou seja, o substantivo grego “π?στις” (fé) no versículo 26 é utilizado pelo apóstolo no sentido do verbo grego “πιστε?ω” (crer).

“E de tudo o que, pela lei de Moisés, não pudestes ser justificados, por ele é justificado todo aquele que crê.” (Atos 13:39).

Perceba que a justificação do homem provém de Cristo (Ele), e não da ação de crer ou acreditar. Todo aquele que crê é justificado, mas o verdadeiro agente da justificação é Cristo, a fé que estava por vir e que se manifestou (compare Gálatas 3:24 com Atos 13:39). Devido a uma interpretação inadequada do texto bíblico, muitos negligenciam o recurso linguístico da metonímia. Isso os leva a ler o substantivo grego “π?στις” (fé) no verso 8, do capítulo 2 de Efésios, como se fosse o verbo grego “πιστε?ω” (crer). Isso implica que o crer seria o dom de Deus, sendo que o dom de Deus é Cristo.

 

“Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus.” (Efésios 2:8).

O cristão não é salvo por meio do πιστε?ω (crer), mas sim por meio da π?στις (fé). Isso significa que o dom de Deus não é πιστε?ω (crer), mas sim Cristo, a π?στις (fé). Deus salva os homens graciosamente por meio de Cristo, o dom de Deus. Cristo veio de Deus, pois foi gerado pelo Espírito Santo no ventre da Virgem Maria, diferentemente dos demais homens, que nascem do sangue, da vontade da carne e da vontade do homem (João 1:13).

O crente deve batalhar, permanecer e guardar até o fim a mensagem do evangelho, ou seja, a fé dada aos santos (Judas 1:3; Filipenses 1:27). O poder de Deus está em Cristo, a essência do evangelho (Romanos 1:16), e não no ato de crer do indivíduo.

Um exemplo do que é “fé” e “crer” é observado em João Batista. Ao ver o Cristo pela primeira vez, ele confessou: “Eis aí o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo” (João 1:29). Cristo era a fé (verdade, fidelidade) manifesta, e João Batista creu Nele. Passados alguns anos, João Batista foi lançado na prisão, e o que ele esperava não havia acontecido. Foi quando João Batista mandou seus discípulos perguntarem a Jesus: “És tu aquele que havia de vir, ou esperamos outro?” (Lucas 7:20). Jesus permanecia o mesmo, sendo a rocha inabalável, a fé, o fundamento, mas a crença de João Batista já não era a mesma.

Para restaurar a crença de João Batista, bastou Jesus apontar para o cumprimento das Escrituras:

“E, na mesma hora, curou muitos de enfermidades, e males, e espíritos maus, e deu vista a muitos cegos. Respondendo, então, Jesus, disse-lhes: Ide, e anunciai a João o que tendes visto e ouvido: que os cegos veem, os coxos andam, os leprosos são purificados, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam e aos pobres anuncia-se o evangelho. E bem-aventurado é aquele que em mim se não escandalizar.” (Lucas 7:21-23).

Jesus apontou para as Escrituras porque Deus é poderoso e fiel, e Sua Palavra é a verdade, digna de toda aceitação. Se uma pessoa não crê nas Escrituras, ela não crerá na pessoa de Cristo e nem em Deus.

 

“Mas, se não credes nos seus escritos, como crereis nas minhas palavras?” (João 5:47).

Se Jesus fosse calvinista ou arminiano, qual seria a resposta dada a João Batista? Essa pergunta admite somente duas respostas. Considerando o exposto pelo calvinista John Piper[1], teríamos as seguintes respostas:

  1. Jesus diria: João Batista, reconheço suas boas intenções ao cumprir o papel designado como meu precursor (João 1:23). Contudo, suas afirmações, como “O que vem após mim é antes de mim, porque foi primeiro do que eu” (João 1:15), ou “Este é aquele que vem após mim, que é antes de mim, do qual eu não sou digno de desatar a correia da alparca” (João 1:27), e ainda, “Eis aqui o Cordeiro de Deus” (João 1:36), parecem ser uma tentativa de contornar a questão da falta de fé salvadora. Suas dúvidas sobre minha pessoa podem derivar da expectativa de mudanças em sua vida ou nação, que ainda está sob o jugo romano. Além disso, sua abordagem em relação à produção de frutos de arrependimento, reinterpretando as palavras de Tiago, parece ter tido um efeito contraproducente em sua segurança de salvação. Isso não significa necessariamente que você não foi eleito e predestinado à salvação, e seus esforços são em vão. Quanto à visão da pomba descendo sobre mim, ela não é espiritual, e por isso surgiu as dúvidas sobre se sou o Cristo ou se deve esperar por outro;
  2. Jesus diria: João Batista, não se preocupe. Apesar de suas dúvidas sobre eu ser ou não o Cristo, a visão da pomba descendo sobre mim representa a fé, uma visão espiritual da glória (ou beleza) no Cristo do evangelho. Mesmo antes de ter certeza de sua salvação, seu coração reconheceu a sublime e gloriosa obra que Deus realizou pelos pecadores. Sua dúvida não tem importância, pois o crucial é se você foi eleito e predestinado à salvação.

Piper vai além, pois no mesmo artigo apresenta quatro aspectos práticos da fé salvadora que dá certeza da salvação:

  1. a) continuar olhando para a cruz e para a obra de Deus em Cristo se desejar ter a segurança de salvação firme em nosso íntimo;
  2. b) deve orar continuamente a Deus, pedindo-Lhe que ilumine os olhos de nosso coração;
  3. c) deve expressar a confiança em Cristo, amando uns aos outros, e
  4. d) a segurança de salvação é um precioso dom de Deus.

Observe que o dom de Deus é a salvação, que, por natureza, é segura, fundamentada no poder, na imutabilidade e na fidelidade divina. Isso se evidencia na promessa feita a Abraão: “Em ti serão benditas todas as famílias da terra”. A segurança da salvação para o crente deriva das promessas contidas nos profetas, anunciadas por Cristo e os apóstolos.

É importante não confundir a salvação com a segurança de salvação. A última é alcançada quando o cristão toma consciência de que está fundamentado sobre o alicerce dos apóstolos e profetas. Já a salvação em si ocorre quando o crente crê e permanece crendo que Cristo é o enviado de Deus.

“Edificados sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas, de que Jesus Cristo é a principal pedra da esquina;” (Efésios 2:20).

O Rev. Hernandes Dias Lopes, notório calvinista, aborda, em um artigo disponível na internet com o título “Você é mesmo um cristão? Como sabe disso?”, a necessidade de os indivíduos examinarem suas vidas para determinar se são verdadeiramente salvos.

 

O artigo começa com propostas contraditórias. Primeiro, o cristão não pode buscar outro meio de salvação, e segundo, duvidar que a salvação possa ser perdida, o que contraria a ideia de que todo aquele que crê em Jesus pode ter certeza da salvação, mas que uma falsa esperança pode ser uma grande tragédia.

Observe que a certeza da frase: quem crer será salvo, é substituída por pode ter certeza, e questiona se a crença da pessoa não se trata de uma falsa esperança.

É perceptível que a certeza expressa na frase “quem crer será salvo” é substituída por “pode ter certeza”, e há uma ponderação sobre a possibilidade de a crença da pessoa ser uma falsa esperança. O texto enfatiza a impossibilidade de a humanidade se salvar ao acreditar em elementos estranhos à verdade do evangelho, como a igreja, a existência de Deus, milagres, o impossível, o absurdo, etc.

Em vez de direcionar as pessoas para as Escrituras, como Jesus fez com João Batista, o Rev. Hernandes aponta para três evidências de perdição.

  1. Mentira moral[2] – a evidência da salvação é uma vida transformada;
  2. Mentira doutrinaria[3] – falso evangelho;
  3. Mentira social[4] – amar os irmãos.

Ao afirmar que a evidência de salvação é uma vida transformada moralmente, com base em versículos que falam da nova criatura e sua condição diante de Deus, Hernandes contradiz os apóstolos, que instigavam os cristãos a se transformarem pela renovação do entendimento (Romanos 12:2).

O evangelho de Cristo não exige nem repousa sobre a moral humana, que é algo transitório e sujeito a mudanças ao longo do tempo e entre diferentes culturas. O evangelho é comparado a uma semente incorruptível, atemporal e universal, que permanece para sempre.

Considerando as colocações de Rev. Hernandes, um cristão na época dos apóstolos que possuía escravos, segundo a moral atual, não poderia ser considerado salvo, assim como os cristãos que fumavam há cem anos atrás. Associar a moral humana ao evangelho é equiparar duas realidades distintas e pode levar a interpretações equivocadas.

 

Tanto Nicodemos quanto a mulher samaritana precisaram nascer de novo e receber um coração novo para terem uma nova vida, uma nova família e uma nova pátria. A evidência segura de salvação está no fruto dos lábios, quando a pessoa confessa a Cristo. Esse é o fruto digno de arrependimento, não a suposta transformação moral.

O fruto, nesse contexto, refere-se ao que sai da boca e procede de um coração regenerado. O comportamento decorre de uma mudança de mentalidade, uma exortação à renovação no espírito da mente. Por exemplo, aquele que roubava não deve roubar mais, e isso requer uma renovação na compreensão, não apenas uma transformação moral.

“Que, quanto ao trato passado, vos despojeis do velho homem, que se corrompe pelas concupiscências do engano; E vos renoveis no espírito da vossa mente; E vos revistais do novo homem, que segundo Deus é criado em verdadeira justiça e santidade. Por isso deixai a mentira, e falai a verdade cada um com o seu próximo; porque somos membros uns dos outros. Irai-vos, e não pequeis; não se ponha o sol sobre a vossa ira. Não deis lugar ao diabo. Aquele que furtava, não furte mais; antes trabalhe, fazendo com as mãos o que é bom, para que tenha o que repartir com o que tiver necessidade.” (Efésios 4:22-28).

Descartar as características do velho homem, renovar o entendimento no espírito e revestir-se do novo homem são elementos inerentes à experiência cristã. Para quem crê em Deus, a morte com Cristo representa a circuncisão do coração, sendo criado novamente em verdadeira justiça e santidade, um processo que culmina na ressurreição com Cristo.

As heresias doutrinárias não se limitam ao primeiro século da igreja cristã, mas persistem como manifestações do espírito do anticristo, que já atuava no mundo nos tempos dos apóstolos (1 João 4:3). Este espírito busca introduzir elementos judaicos no evangelho, como circuncisão, observância de sábados, questões alimentares, festividades, entre outros, que são derivados de mandamentos humanos.

Além disso, o espírito do anticristo propaga mensagens que negam aspectos fundamentais da fé cristã, como a encarnação de Jesus, Sua morte e ressurreição, Sua divindade, retratando-O como um anjo e desconsiderando as profecias a Seu respeito. O anticristo também tenta estabelecer líderes e instituições como intermediários entre Deus e os homens, ignorando o papel mediador de Cristo.

Uma das ações mais perigosas desse espírito é confessar que Cristo é o Senhor, mas negar a eficácia da obra na cruz. Mensagens que afirmam que o crente é considerado justo, mas na prática não é, ou que foi santificado apenas posicionalmente, negam a real transformação operada pelo evangelho. Essas mensagens comprometem gravemente a segurança da salvação, minando a confiança na obra redentora de Cristo.

 

É paradoxal afirmar que o crente é pecador após ter morrido para o pecado, ter sido feito servo da justiça e pertencer a Cristo, que não é ministro do pecado (Gálatas 2:17). A incompatibilidade entre a natureza do crente, agora como luz, e o pecado é evidente, já que Deus é luz e não há trevas nele. Para o homem estar em Deus e Deus nele não pode haver qualquer relação com o pecado, pois não há comunhão entre a luz e as trevas Servir a Cristo e ao pecado simultaneamente é uma contradição, pois Cristo demanda lealdade exclusiva.

Crer em Cristo é algo objetivo que demanda compreensão da mensagem e aceitação plena. Admitir que Jesus de Nazaré é o Cristo de Deus é crer em tudo o que foi profetizado pelos profetas e anunciado pelos apóstolos (Mateus 13:15 e 19).

Ao crer com a mente (coração) para justificação e confessar com os lábios (fruto) para salvação, o cristão passa a condição de nova criatura, filho de Deus, luz, isto porque obedeceu (amou) ao Cristo, portanto, conheceu tanto o Pai como o Filho.

Amar é algo objetivo, e envolve submissão, sujeição. Só é possível amar um só senhor, ou seja, só é possível obedecer a Cristo. Amar a um único senhor, em outras palavras, implica obediência exclusiva a Cristo, revelando-se a incompatibilidade de servir a dois senhores. A transformação do crente em uma nova criatura, filho de Deus e luz, resulta da obediência, que é amor a Cristo. O crente, ao obedecer, ama a Cristo, e conhece tanto o Pai como o Filho.

Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda esse é o que me ama; e aquele que me ama será amado de meu Pai, e eu o amarei, e me manifestarei a ele.” (João 14:21).

O mandamento é especifico: que creiais naquele que Ele enviou! Observe o que objetivamente estabeleceu o apóstolo João:

“E o seu mandamento é este: que creiamos no nome de seu Filho Jesus Cristo, e nos amemos uns aos outros, segundo o seu mandamento. E aquele que guarda os seus mandamentos nele está, e ele nele. E nisto conhecemos que ele está em nós, pelo Espírito que nos tem dado.” (1 João 3:23-24).

 

O evangelista enfatiza não apenas o mandamento de crer em Cristo, mas também ressalta que o amor aos outros deve ser alinhado a esse mandamento. Além disso, ele faz referência à nova condição do cristão, que agora está em comunhão com Deus (n’Ele está, e Ele nele), ou seja, conheceu a Deus. Essa experiência revela um verdadeiro conhecimento de Deus. Essa mesma realidade é expressa de maneira semelhante pelo apóstolo Paulo ao descrever o cristão como uma nova criatura, completamente isenta de qualquer condenação.

“PORTANTO, agora nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus, que não andam segundo a carne, mas segundo o Espírito.” (Romanos 8:1);

“Assim que, se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo.” (2 Coríntios 5:17).

Observa-se que estar em Cristo equivale a ser uma nova criatura, o que, por sua vez, resulta em estar isento de qualquer condenação. Essa transformação decorre de amar a Deus, ou seja, de crer em Cristo.

Contudo, o Reverendo Hernandes denuncia uma mentira social que surge a partir de abordagens que apresentam o amor como algo subjetivo, divorciado do mandamento de Cristo.

Quanto ao amor ao irmão, de acordo com o apóstolo João, amar segundo o mandamento implica apresentar ao irmão o Cristo crucificado, ou seja, falar a verdade a cada um de seus irmãos (conforme Zacarias 8:16; Efésios 4:25). Aquele que ama o irmão conforme o mandamento não faz acepção de pessoas, pois compreende que o corpo de Cristo é formado por judeus e gentios. Essa pessoa vive a verdade de que no corpo de Cristo não há distinção entre judeus e gregos, homens e mulheres, servos e livres, pois todos são filhos de Deus.

“A saber, que os gentios são co-herdeiros, e de um mesmo corpo, e participantes da promessa em Cristo pelo evangelho;” (Efésios 3:6);

 

“Nisto não há judeu nem grego; não há servo nem livre; não há macho nem fêmea; porque todos vós sois um em Cristo Jesus.” (Gálatas 3:28).

 

As garantias do evangelho

O único local verdadeiramente confiável para encontrar garantias de salvação é na Bíblia. Instituições, líderes, práticas, ritos e outros elementos não oferecem a segurança da salvação. A certeza da salvação reside em Deus, que é poderoso para salvar, fez a promessa de salvação, é fiel em cumprir Suas promessas e é incapaz de mentir.

Deus proclamou o evangelho pela primeira vez a Abraão, assegurando que, por meio do Descendente de Abraão, as famílias da terra seriam abençoadas. Essa promessa estabelece a base da garantia de salvação para aqueles que creem, confiando na fidelidade e poder salvífico de Deus.

“Ora, tendo a Escritura previsto que Deus havia de justificar pela fé os gentios, anunciou primeiro o evangelho a Abraão, dizendo: Todas as nações serão benditas em ti.” (Gálatas 3:8).

A promessa da salvação foi anunciada a Abraão, com destaque para a descendência de Abraão e, mais especificamente, para a casa de Davi. Quando Cristo nasceu, as confissões de Zacarias e Simeão confirmaram essas profecias.

Zacarias, pai de João Batista, ao ver seu filho nascido, proclamou louvores a Deus, reconhecendo que a redenção estava próxima e que o Senhor havia visitado e redimido o Seu povo (Lucas 1:68-69). Simeão, ao segurar o menino Jesus no templo, também reconheceu a realização das promessas divinas, declarando que agora podia partir em paz, pois seus olhos viram a salvação preparada diante de todos os povos (Lucas 2:29-32).

Essas confissões ressaltam a conexão entre o nascimento de Cristo e as promessas feitas a Abraão e à casa de Davi, confirmando a vinda da salvação por meio do Messias.

 

“E nos levantou uma salvação poderosa Na casa de Davi seu servo.” (Lucas 1:69);

“Pois já os meus olhos viram a tua salvação,” (Lucas 2:30).

Essa foi a mensagem de João Batista:

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